Passagem do feudalismo para o capitalismo: (im)possibilidades do discurso histórico acadêmico em cursos pré-vestibular

Autor: Silva, Kelvin Emmanuel Pereira da
Ano: 2014
Instituição: UFRGS
Área: Ciências Humanas
Tipo: Resumo publicado em evento
Resumo: Quais são os limites entre o ensino de história no curso superior e o ensino de história nos cursos preparatórios para concursos vestibulares (cursos pré-vestibular)? Esse questionamento surgiu após ser solicitado, pela professora Mara Rodrigues na disciplina de História Moderna I, vinculada ao Departamento de História da UFRGS, a realização de um seminário. Esse seminário tinha como objetivo articular os conteúdos trabalhados em aula com o público não-acadêmico. Nesse sentido, foi sugerido que esse público pudesse ser constituído por alunos de escolas ou instituições culturais, como museus e memoriais. O debate acerca da relação entre a formação em história na graduação e o ensino de história na educação básica tem estado no horizonte de diversos congressos, seminários, artigos, teses, dissertações, etc. Esse debate, insere-se num momento em que o lugar da História (enquanto ciência e disciplina) tem sido também problematizado, tendo em vista o processo de profissionalização do Historiador, que concomitantemente se une questionamentos sobre quem faz, para quê faz e para quem se faz História. Ao mesmo tempo, as traduções dos livros e textos do historiador alemão Jörn Rüsen no Brasil, aparecem com discussões sobre a didática da história e a quê ela estaria relacionada: seria uma didática para o ensino de história nas escolas, uma didática para o uso da história no cotidiano da sociedade ou ambas? De qualquer forma, essas são perguntas que não iremos argumentar nesse momento, já que nosso objetivo é outro. Nosso escopo é ir além da relação ensino superior e ensino básico. Pretendemos discutir a relação ensino superior e ensino em cursos pré-vestibulares, já que esses últimos têm cada vez mais se constituído como um mecanismo de preparo para os concursos que permitem a entrada no ensino superior. A demanda tem aumentado, pois ao mesmo tempo, as possibilidades de acesso às graduações também são maiores. Então, se a procura por vagas nas universidades e faculdades, sejam elas públicas ou privadas, inserem-se num novo panorama da situação educacional brasileira, e os cursos pré-vestibulares têm sido procurados como caminhos para o acesso a essas vagas, qual o lugar do ensino de história nos cursinhos? A partir desse questionamento, procuramos levar para o seminário da disciplina de História Moderna I, a reflexão sobre limites do ensino de história que possam existir numa aula para um curso pré-vestibular. Todavia, para o desenvolvimento desse relato, partimos de uma experiência prática de uma aula, no Cursinho Pré-Vestibular Esperança Popular Restinga, o qual se apresenta como uma ação de extensão realizada pelo Departamento de Educação e Desenvolvimento Social (DEDS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Esse cursinho, promovido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Alberto Pasqualini, em parceria com a Associação de Moradores do Núcleo Esperança I, localizado no bairro Restinga, zona sul de Porto Alegre, tornou-se um meio de desenvolver o que se aprende e se debate nas aulas da graduação em História, de forma que esses conteúdos do ensino superior, possam ser transmitidos didaticamente aos alunos para a realização de concursos pré-vestibular. Dessa forma, fizemos a escolha de um conteúdo específico (passagem do feudalismo para o capitalismo), o qual foi apresentado na disciplina de História Moderna e procuramos extrair informações que foram ao longo das edições dos vestibulares da UFRGS e do Exame Nacional do Ensino Médio requeridos. Assim, articulamos o discurso a ser apresentado na aula do cursinho e indagamos: quais são as (im)possibilidades do discurso histórico acadêmico em cursos populares pré-vestibular? Para o desenvolvimento da aula, partimos de capítulos de livros trabalhados na graduação: “prelúdio medieval”, presente no livro o Sistema Mundial Moderno do historiador e sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, e dos capítulos “o modelo mercantil e seu legado”; “a origem agrária do capitalismo” e “do capitalismo agrário ao capitalismo mercantil” presentes no livro a Origem do Capitalismo da historiadora também estadunidense Ellen Wood. Esses textos foram a base da preparação da aula no cursinho, a fim de fundamentar como o capitalismo se forma frente ao sistema feudal. Durante a aula, utilizamos o conceito de economia-mundo europeia, trabalhado por Wallerstein, que nos auxiliou na explicação sobre como o capitalismo surge numa dinâmica de transformação das condições econômicas e sociais. As formas de institucionalização desse novo sistema podem ser presenciadas a partir de técnicas específicas e de uma nova tecnologia, que surgem justamente porque a Europa vive um momento oportuno para isso. Outra questão que Wallerstein nos auxilia é na explicação sobre como Portugal se torna o pioneiro na exploração ultramarina, num momento em que nesse país as questões políticas e sociais permitem tal ação, e ao mesmo tempo há a necessidade de ir alémmar para conquista de especiarias, bens e etc. Também a tese de Wallerstein sobre três fatores que tornam a crise do século XIV possível. Já os textos de Ellen Wood nos permitem explicar os fatores específicos, como a dependência do mercado, que fazem o capitalismo se desenvolver . Ademais, as análises que os historiadores fizeram foram escolhidos conforme os conteúdos que os vestibulares costumam solicitar. Ou seja, partimos dessas provas para então delimitar o que de fato retiraríamos dos textos da graduação. Nesse sentido, foi possível refletir sobre diferenças e semelhanças, no que se refere às perspectivas de assuntos apresentados no ensino superior e nos exames para ingresso nessa etapa do sistema educativo. Assim esse relato pretende apresentar em mais detalhes a experiência docente num curso popular pré- vestibular. Experiência essa que foi construída a partir do discurso acadêmico dos conteúdos da graduação em História.

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