Jovens da periferia e a arte de construir a si mesmo: experiências de amizade, dança e morte

Autor: Amaral, Márcio de Freitas do
Ano: 2015
Instituição: UFRGS
Área: Ciências Humanas
Tipo: Tese
Resumo: Esta tese trata das práticas de “cuidado de si” de jovens de uma região de periferia de Porto Alegre (RS), os quais enfrentam uma série de restrições e violências que marcam a sua condição juvenil. Participantes de um grupo de dança de rua associado à cultura hip hop (o grupo Restinga Crew) esses jovens encontram em suas práticas artísticas e de amizade um conjunto de elementos que acabam por ressignificar suas biografias. Fundamentada em estudos de Michel Foucault, especialmente aqueles relativos ao tema da “hermenêutica do sujeito”, a tese analisa as formas contemporâneas que o “cuidado de si” pode assumir, no processo de constituição de sujeitos jovens, a partir de práticas que dizem respeito ao estabelecimento de uma particular “relação consigo”. O levantamento de dados (ocorrido no período de 2012 a 2013) consistiu em um trabalho de inspiração etnográfica, com o acompanhamento, a observação e o registro de cenas cotidianas individuais e coletivas na periferia, bem como de situações de ensaios, treinos e apresentações do grupo de dança; constam dos dados, igualmente, as narrativas individuais, nascidas do encontro do pesquisador com alguns dos jovens. O estudo tem como foco de análise três planos constitutivos da experiência de vida desses indivíduos, e que se relacionam com os modos de viver em uma periferia, a partir dos quais foi possível chegar a algumas conclusões. Em primeiro lugar, o plano da amizade (de caráter político), que se refere aos vínculos desenvolvidos com os pares, às redes de sociabilidade e solidariedade, por meio dos quais os jovens pesquisados evidenciam a criação de novas formas de lidar com o social e o público. Em segundo lugar, o plano da dança (de caráter tecnológico), o qual compreende a prática artística, e que aparece meio de produzir efeitos de mudança de si para si mesmo; trata-se de uma “técnica de si” que articula não somente um trabalho sobre si mesmo, mas também a construção de uma identidade como dançarino, a produzir reconhecimento e visibilidade. Finalmente, o plano da morte (de caráter ontológico), referido às opções de vida desses jovens, as quais mostram-se atreladas à possibilidade radical de encontrar um fim iminente (devido à sua condição social); essas escolhas alteram as maneiras de cada um conduzir-se, principalmente quanto aos modos de operarem com o tempo, nas suas trajetórias individuais. Implicados entre si, os três planos constituem matéria da experiência de vida 16 desses jovens, resultando em modos de ser e relacionar-se consigo e com o outro, e em formas de viver no social e na cultura. Nas conclusões, dá-se destaque à singularidade das práticas pedagógicas produzidas pelos jovens nesse contexto de arte e amizade, e que estão relacionadas a um conjunto de saberes e processos vivenciados nas trajetórias dos integrantes do grupo.

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