Construção social do espaço, identidades e territórios em processos de remoção : o caso do bairro Restinga – Porto Alegre / RS

Autor: Zamboni, Vanessa

Ano: 2009

Instituição: UFRGS

Área: Ciências Sociais Aplicadas

Tipo: Dissertação

Resumo: Este trabalho objetiva, sobretudo, conhecer como grupos sociais pertencentes à classe popular, removidos por políticas públicas, constroem suas identidades em um novo território. Para tanto, realizou-se um estudo de caso que teve como universo de pesquisa antigos moradores da Ilhota e da Vila Santa Luzia que, removidos de seus territórios, participaram do processo inicial de ocupação do bairro Restinga em Porto Alegre. Privilegiou-se o emprego de uma abordagem referenciada tanto na Antropologia como nos Estudos Urbanos, tendo como elementos de destaque a etnografia, as entrevistas semi-estruturadas e a investigação da formação dos territórios envolvidos a partir de uma análise histórico-documental. Tal empreendimento, procurou conjugar, não livre de tensões, perspectivas amparadas em repertórios teórico-metodológicos bastante distintos. Tendo como momento central o evento da remoção, procurou-se, em primeiro lugar, conhecer como os atores sociais vivenciavam cotidianamente o espaço em seus territórios de origem, enfatizando suas estratégias de subsistência e formas de sociabilidade, para, em seguida, avaliar o processo de remoção em si e as conseqüências decorrentes deste, em especial, para os grupos removidos. Em um segundo momento, buscou-se, através dos relatos dos moradores, apreender como construíram suas vidas/espaços nesse novo território. Nesse ínterim, refletindo-se sobre a construção de identidades destes grupos, tanto em relação aos antigos territórios quanto ao atual, verificou-se a importância que a “identidade territorial” assume na construção do quem sou “eu” /quem somos “nós”. Ademais, observou-se que tal identidade, além de contrastiva, é mobilizada em múltiplos níveis por ser, também, situacional. Isto é, a noção do “nós”, quando referida aos territórios de origem, remete ao compartilhamento tanto de estilos quanto de trajetórias de vida, nesse caso específico aos processos de remoção. Porém, por outro lado, a noção de “eles” pode ser determinada pela condição de não-residentes do bairro Restinga, em contraposição a um “nós” que engloba todos os moradores do bairro indistintamente. Com isso, percebe-se que os territórios de origem permanecem vivos em suas lembranças, dando-lhes nome e identidade, diferenciando-os, enfim, ocupando lugar de destaque na constituição do “quem sou eu” ou do quem “somos nós”. Evidenciou-se, também, que as remoções, ao serem impostas de forma arbitrária, desconsiderando aspectos fundantes desses grupos sociais, tais como os laços de pertença aos territórios e ao próprio grupo, tornam-se eventos traumáticos, com seqüelas irrecuperáveis, devido ao caráter violento e autoritário com que se revestem. Por fim, no que diz respeito aos agentes sociais que participam das decisões e implementações de políticas públicas, aqui, especificamente, intervenções urbanas, ao partilharem de “olhares” estigmatizantes dos espaços/indivíduos/grupos de classe popular, acabam por reproduzir e agravar as desigualdades sociais.

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